O jogo da memória e o esquecimento nas geografias do exílio
Resumen
Dois amigos uruguaios, exilados em Paris, durante o período da ditadura, estão sentados em um café, como costumam fazer, para entregar-se a um jogo que consiste no intercâmbio de perguntas sobre alguns detalhes de sua Montevidéu distante: um prédio, um teatro, uma árvore, uma praça, um monumento, um café, uma padaria..., qualquer coisa. Um deles pergunta e o outro tem que espremer a memória para descrever esse detalhe, como se fosse um postal guardado há muitos anos, ou terminar por admitir que aquela imagem lhe foi tolhida da cada vez mais tênue trama do arquivo da memória. Mas hoje, em meio ao jogo, surge, na esquina do café, uma figura feminina conhecida, Delia. que, também perseguida pela ditadura, não pôde exilar-se, foi presa, sobreviveu à prisão e à tortura e, após ter sido liberada, refugiou-se, também, em Paris. O reencontro enche-os de alegria. Tendo chegado recentemente do Uruguai, ela trazia notícias recentes. Só que as notícias que trouxe não são boas, tudo mudou por lá, eles já não reconheceriam a cidade e ambos perderiam nesse jogo de adivinhação que costumam fazer. Montevidéu não é mais a mesma: por todas as partes há andaimes de obras que foram suspensas, lotes vazios, cheios de entulho e, mais ainda, a avenida principal, a Av. 18 de Julio, já não tem árvores. A notícia é recebida com assombro principalmente por Roberto, que pensa: “De repente ercebo que as árvores de Dieciocho eram importantes, quase decisivas para mim. Eu é que fui mutilado. Fiquei sem ramos, sem braços, sem folhas”(Benedetti 1988, 1
Publicado
2005-09-10
Sección
Artículos / Articles